Acervo Machado de Assis
185 Anos de Machado de Assis: A Negação da Identidade Racial do Maior Escritor Brasileiro
Embora exaltado como o maior escritor brasileiro, a negritude de Machado de Assis continua a ser questionada.
A eterna dúvida sobre Capitu: dividindo opiniões, brasileiros se perguntam se ela traiu Bentinho ou se tudo não passou de imaginação. Machado de Assis, autor de obras-primas como "Dom Casmurro", "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "Quincas Borba", é reconhecido como um dos maiores nomes da literatura brasileira.
Sua escrita notável caracteriza-se por análises psicológicas profundas, ironia discreta e crítica social implacável.
Ao longo de sua carreira, abordou temas como hipocrisia social, ambição desmedida e as complexidades da natureza humana, criando um legado que ainda hoje é objeto de estudo e admiração.
Apesar de sua relevância, existem muitas dúvidas sobre a identidade racial de Machado de Assis, que em 21 de junho completaria 185 anos. Mas por que tanta incerteza sobre o patrimônio étnico de uma figura tão crucial para a cultura brasileira?
A certidão de óbito do escritor, assinada pelo escrivão Olympio da Silva Pereira, menciona que Joaquim Maria Machado de Assis, falecido aos 69 anos em 29 de setembro de 1908, foi registrado como “branco” na nona linha do documento.
No entanto, outras fontes históricas lançam luz sobre a verdadeira identidade racial de Machado. Em uma carta datada de 6 de junho de 1871, o poeta carioca Gonçalves Crespo (1846-1883), também negro, mencionou Machado de Assis como “de cor como eu”.
"À Vossa Excelência, já conhecia de nome há bastante tempo. De nome e por uma certa simpatia que senti quando me disseram que era… de cor como eu", diz a carta.
José Veríssimo (1857-1916), amigo de Machado, escreveu um obituário publicado no Jornal do Commercio, intitulado "Machado de Assis: impressões e reminiscências", onde afirmou: "mulato, foi de fato um grego da melhor época". O comentário gerou discordância em Joaquim Nabuco (1849-1910), jornalista, historiador e político. Nabuco escreveu a Veríssimo elogiando o obituário, mas recomendo retirar o trecho em futuras publicações em livro, argumentando: "Eu não o teria chamado de mulato e penso que isso o magoaria. Rogo-lhe que tire isso, a palavra não é literária e é pejorativa. Para mim, Machado era branco e me parecia considerar-se assim".
Não há registros detalhados de como Machado de Assis se identificava racialmente. O que se sabe é que ele era filho de pai pardo e alforriado e mãe branca. A negação racial de Machado de Assis nas representações
Na segunda metade do século XIX, teorias raciais, incluindo o darwinismo racial, chegaram ao Brasil, propondo diferenças intrínsecas entre brancos e não-brancos, legitimando a eugenia. Esta política defendia a separação racial, promovendo a reprodução da população branca vista como superior e visando eliminar as populações negra e indígena, consideradas inferiores.
A eugenia influenciou a teoria do branqueamento, que previa um Brasil completamente branco no futuro, através de uma política de imigração que incentivou a vinda de milhões de europeus para se misturar à população negra, eliminando gradualmente suas características. Estas ideias acreditavam que o Brasil se tornaria mais forte à medida que adotasse características europeias, tanto no fenótipo quanto na cultura.
Além dessas políticas, a prática do branqueamento incluiu a representação de figuras negras como brancas, como ocorreu com Machado. Após sua morte em 1908, José Veríssimo escreveu um artigo para o Jornal do Comércio enaltecendo Machado e referindo-se a ele como "mestiço" e "mulato". O artigo gerou uma carta de resposta de Joaquim Nabuco, insistindo que Machado era branco.
Nabuco pediu a Veríssimo que removesse as referências à cor de Machado nas publicações futuras, argumentando que o termo "mulato" não era apropriado e era pejorativo. Ele insistia que Machado deveria ser visto como caucasiano, independentemente de seu verdadeiro heritage racial.
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